sábado, 22 de fevereiro de 2014

"Um dia eu precisei amar a minha dor.

Era o único jeito que eu tinha de continuar vivendo. Ou aprendia, ou morreria com ela. Resolvi aprender. Desde então, a minha dor é minha companheira, minha mestra, minha parceira. Deixou de ser minha inimiga no momento em que eu a olhei nos olhos e aceitei conhecê-la com mais propriedade. Quis entrar nos mistérios de seus mecanismos com o intuito de poder administrar melhor as suas consequências. Eu não a busco, mas quando chega, abro as portas para que não force as janelas. Deixo que entre, ofereço-lhe um café, olho nos seus olhos para que cesse o medo e depois me empenho em deixar que fique o tempo necessário, até que dissolva por si só, pela força do tempo. Quando acolhida, a dor se dissipa aos poucos, e, de maneira incrível e surpreendente, o que parecia ser tão definitivo transforma-se em matéria transitória. Pode parecer-lhe estranho, mas eu prefiro que ela se acomode na sala. Se eu não permito que ela entre, ela fica batendo na minha janela, dia e noite, impedindo-me o sono". Filosofar sobre a dor não ameniza o seu poder, ao passo que acolhê-la com simplicidade, isso sim, faz sentido.DARC (Pe. Fábio de Melo, em Tempo de Esperas).